assopre as velas

tenho estado cheia e a cabeça explode em um turbilhão de palavras
do tipo que se vomita aos ventos e se escreve perdido
e as palavras esquecidas no bloco de notas - do meu celular
turbilhão que é contraditório pois se existe no ócio 
e eu penso demais e faço pequeno porque a vida amarra minhas mãos e eu, preso
desapareço.

procrastino - ansioso
arrepia o corpo a tristeza que se transforma em palavra porque a palavra é eterna e a tristeza
parecida com ela quase se mostra como infinitude, mas passa
passa o tempo corrido no relógio e eu assistindo ele dançar logo à minha frente 
segredo que escondo e escrevo
segredo e escrevo a vida no ritmo dos meus próprios segredos 

penso no passado e o passado carregando no braço a saudade de tudo que existia e o fim que os enlaça
penso em meu cachorro e penso no meu avô e também no meu amigo que cresceu tanto que desapareceu, pois crescer traz na gente a vontade do sumiço 

e sumimos uns dos outros
onde você está?

as mães e avós dizem que a vida se ajeita e eu envelheço acreditando pois estou vivo
então isso é sinal que tudo se ajeita 
eu com dezoito perdido e não concordando com nada pois quando se tem dezoito existe um ódio confuso que nasce na flor que existe no peito 
e ela murcha - as pétalas secas, lembranças e elas
as lembranças 
cicatrizes que existem o tempo todo de nossa história escrita à mãos pequenas e bambas

eu aqui declarando guerra ao meu eu que existiu e fugindo
pois fugir de minha história é irresistível e me ver recomeçar enquanto fujo 

delicioso escapar de mim
imaturo e insuportável e burro
que desdenha e é desdenhado e ama
sem ser amado 
odiando enquanto é amado 
a ironia que é sentir sem saber 
o que se está sentindo de fato 

e engraçada a vida que nos dá ao luxo de ser bobo e não nos esquece a memória doída
tampouco os tropeços e segredos e os olhos que se cansam 
e passam a enxergar as coisas diferentes 
por isso os mais velhos sempre dizem que gostariam de ser mais novos com a cabeça um pouco mais velha 
e o amadurecimento tão temido 
mora ali naquele canto escondido entre o tempo e a maneira como fazemos ele correr
por isso gosto de aniversários e comemorar os anos passados
longe do passado 

e eu agora cheio de maturidade 
olhando com cuidado para mim e 
para o passado
que existe 
então decido
olhar com carinho para ele também

apesar tudo

existo pela e por minha história
mais um ano correu e eu
assoprei as velas - escuro

comemore a vida
apagando a luz.

"Este texto é uma obra fictícia e autoral, protegido por direitos autorais contra qualquer forma de plágio."

Publicado em 21/08/2024